Me arrependi de ser mãe: verdades por trás do silêncio

mulher muito arrependida de ter sido mãe

Talvez você nunca tenha falado isso em voz alta. Talvez nem consiga dizer isso olhando no espelho. 

Mas em algum momento, no silêncio da noite ou no meio do caos do dia, essa frase passou pela sua cabeça: “Me arrependi de ser mãe.”

Se foi isso que te trouxe até aqui, respira fundo. Você não está errada por sentir isso e não está sozinha. E muito menos é uma mãe ruim por pensar isso.

Ninguém te contou que a maternidade poderia doer tanto. Que você poderia amar seu filho com toda a força do mundo… e ainda assim sentir saudade da sua antiga vida. Do silêncio. Do tempo só seu. De ser só você sem cobranças, sem culpa, sem essa pressão absurda de ser perfeita o tempo todo.

A verdade é que quase ninguém fala sobre isso. Fica tudo escondido atrás de fotos sorridentes, comentários prontos como “aproveita cada momento” ou “ser mãe é a melhor coisa do mundo”. 

Mas e quando não é? E quando você sente que está perdendo a si mesma nesse processo?

Essa conversa aqui é pra isso. Pra te ouvir, te acolher e te lembrar que seu sentimento é válido. Que o arrependimento materno existe, e que falar sobre ele não te faz menos mãe. Te faz humana.

Vamos juntas entender o que está por trás disso tudo?

É normal se arrepender de ser mãe?

Sim, é. E pode respirar aliviada por ouvir isso de forma direta.

Talvez você nunca tenha escutado essa frase de ninguém. A maioria das mães guarda esse sentimento a sete chaves, com medo do julgamento, da culpa, ou de machucar os filhos com algo que, no fundo, não tem a ver com eles mas com tudo o que ser mãe exige, cobra e transforma.

Você pode se arrepender da função, da rotina, da perda da sua liberdade, da exaustão sem fim. 

Isso não significa que você não ame seu filho. Amor e arrependimento podem coexistir, por mais estranho que pareça no começo.

Esse arrependimento pode vir em ondas: às vezes depois de uma noite mal dormida, de um dia difícil, ou até de uma sequência de semanas em que você sente que só existe pra cuidar, servir e dar conta. E sabe de uma coisa? Isso é mais comum do que parece.

O que acontece é que a sociedade idealizou tanto o papel da mãe que ninguém fala sobre o outro lado. 

Sobre as lágrimas escondidas no banheiro. Sobre o desejo de voltar no tempo. Sobre a dor de não se reconhecer mais.

Mas aqui a gente fala. Porque esconder o que você sente só aumenta o peso.

Então sim, é normal sentir isso. E só de você ter procurado por respostas já mostra o quanto você se importa não só com seu filho, mas com você também.

mãe dentro do quarto do seus filhos e arrependida de ter virado mãe

Por que me sinto assim? Principais causas do arrependimento materno

Você já se perguntou por que está se sentindo desse jeito? Talvez até tenha pensado que há algo de errado com você… mas a verdade é que há muita coisa errada com o que esperam da gente, não com você.

A primeira coisa que precisa ser dita é: você não nasceu sabendo ser mãe. Ninguém nasce. E mesmo quem planejou, desejou, se preparou… pode se deparar com uma realidade que dói, cansa e sufoca.

Vamos falar sobre algumas das razões mais comuns por trás desse sentimento?

1. A maternidade real não tem nada a ver com a que te mostraram

Você provavelmente cresceu vendo a maternidade sendo retratada como algo mágico. Como se toda mulher naturalmente soubesse cuidar, acalmar, educar, cozinhar, brincar e ainda sorrir no fim do dia.

Mas a verdade é que isso é uma ilusão e eu tenho certeza que você já se deu conta disso Uma mentira bem contada e repetida, acaba se tornando uma verdade, principalmente nas redes sociais. 

E quando a realidade bate, vem o choque e você se questiona: “por que comigo é tão difícil?”, “será que eu estou falhando?”, “por que eu só sinto peso e não leveza?”

Ps.: essa é a realidade da maioria das mães que eu atendo.

Leia também: O que significa o arrependimento de ter o segundo filho?

2. A sobrecarga emocional e invisível

Outra sensação muito comum é a de estar sempre devendo algo, mesmo você cuidando do seu filho, da sua casa, do seu trabalho e do seu relacionamento, não importa o quanto você faça… nunca é o suficiente .Isso tem nome: sobrecarga mental. E ela afeta milhares de mães todos os dias. O problema é que quase ninguém vê. E o que não é visto, também não é valorizado.

Infelizmente, muitas pessoas ainda menosprezam o trabalho materno, o trabalho com o lar e ainda tem quem diga, ao final de um dia cansativo, “por que é que você está se sentindo assim, ficou em casa o dia todo?”

Isso é muito difícil, principalmente quando é a sua realidade.Essa carga silenciosa vai se acumulando até virar exaustão. E quando você se sente esgotada por tanto tempo, é natural começar a se perguntar: “era isso mesmo que eu queria pra minha vida?”

3. Você sente falta de quem era antes

Antes de ser mãe, você era uma mulher com sonhos, tempo livre, rotina, silêncio. Você podia dormir, viajar, fazer nada. E agora parece que tudo isso sumiu.

Sentir saudade da sua antiga vida não é egoísmo. É saudade, só isso. E essa saudade pode se transformar em arrependimento quando você percebe que não tem mais espaço pra ser quem era só pra ser mãe.

4. A falta de apoio real

Talvez você tenha alguém por perto, mas ainda assim se sente sozinha. Isso acontece porque estar acompanhada não é o mesmo que ser apoiada.

Muitas mulheres enfrentam essa fase praticamente sozinhas, mesmo dentro de um relacionamento. Parceiros ausentes, familiares que julgam, e uma sociedade que espera que você aguente tudo com um sorriso no rosto.

E aí fica pesado demais. Sozinha, até o amor vira peso.

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5. A pressão para ser perfeita

Você não pode errar. Não pode reclamar. Não pode sentir raiva. E, muito menos, pode dizer que está arrependida. Essa é a regra invisível que impuseram às mães.

Mas isso não é justo. Nem real.

Você é humana. E seres humanos sentem, caem, se arrependem, recomeçam.

O arrependimento, muitas vezes, é o resultado de uma conta que não fecha: muita cobrança, pouca ajuda, quase nenhum reconhecimento e nenhum espaço pra você existir como mulher além do papel de mãe.

E se você está sentindo tudo isso, o problema nunca foi só você. O problema é que te prometeram uma maternidade que não existe.

Leia também: Não é fácil ser mãe!

O que é ambivalência materna e por que ela é tão comum (mas pouco falada)?

Sabe aquele momento em que você pensa “amo meu filho mais que tudo, mas queria sumir por uns dias”? 

Ou quando você sente gratidão por ter se tornado mãe… e no mesmo segundo sente vontade de gritar? Isso tem um nome: ambivalência materna.

E não, você não é louca. Nem ingrata. Nem uma péssima mãe.

A ambivalência nada mais é do que sentir duas coisas opostas ao mesmo tempo. Amor e raiva. Orgulho e arrependimento. Alegria e exaustão. Vontade de ficar perto e vontade de fugir. Tudo junto, bagunçado, confuso e totalmente humano.

“Quero estar com meu filho o tempo todo… e não aguento mais ficar com ele”

Pode parecer contraditório, mas é muito real. A maternidade é feita de extremos. Tem momentos lindos e também tem os dias em que você olha para o relógio e torce pra ele passar mais rápido.

Só que ninguém fala disso com clareza.

A maioria das mães carrega essas sensações em silêncio. Porque a ideia de “boa mãe” que a sociedade impõe não deixa espaço para falhas, dúvidas ou arrependimentos.

Mas é justamente esse silêncio que adoece. Porque quando você não pode contar o que sente, você começa a acreditar que tem algo errado com você. E não tem.

Sentir tudo ao mesmo tempo não é sinal de fraqueza, é sinal de profundidade

Você sente tanto porque se importa. Porque dá o seu melhor. Porque tenta, mesmo quando está no limite. A ambivalência mostra o quanto você está viva dentro dessa experiência.

É como se sua cabeça dissesse uma coisa, seu corpo pedisse outra e seu coração ficasse no meio, tentando segurar tudo.

E isso não te faz menos mãe. Te faz uma mãe real.

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A ambivalência não é doença. Mas guardar tudo pode adoecer

É claro que esses sentimentos confundem. Às vezes, eles até se misturam com ansiedade ou sintomas de depressão. 

E é por isso que, se o peso estiver ficando insuportável, procurar ajuda profissional não é sinal de fraqueza. É autocuidado.

Mas é importante entender: a ambivalência materna em si não é algo errado. É uma resposta natural a uma situação muito intensa, muito exigente e muitas vezes muito solitária.

Você não precisa fingir que está tudo bem. Pode dizer que está difícil. Pode sentir amor e arrependimento ao mesmo tempo. Pode sentir tudo.

mulher pensativa e segurando seu bebê enquanto ela se arrepende de ter virado mãe

Como lidar com o arrependimento de ser mãe sem se culpar

Você já carrega o peso do que sente. A última coisa que precisa é de mais culpa por isso.

A culpa, aliás, parece vir de brinde com a maternidade, né? Você se sente mal quando perde a paciência, quando deseja estar sozinha, quando pensa em como seria sua vida se tivesse feito outra escolha. Mas… e se eu te dissesse que se sentir assim não faz de você uma mãe ruim?

Sentir arrependimento não te desqualifica. Te humaniza. E a melhor forma de lidar com esse sentimento não é se esconder nem se punir é olhar pra ele com honestidade e, principalmente, com carinho por si mesma.

1. Pare de se julgar o tempo todo

Você já está fazendo o melhor que pode. Mesmo nos dias em que parece que não. A autocobrança só alimenta o ciclo da dor: você se sente mal, se julga, se cala… e se afasta ainda mais de você mesma.

Respira. Sente. Permita-se admitir: “eu estou cansada, frustrada, triste” sem precisar justificar, sem achar que isso te torna menos mãe. Você é um ser humano vivendo algo gigante. Isso já basta.

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2. Comece a falar sobre o que sente (mesmo que aos poucos)

Guardar tudo dentro de si é como carregar uma mala cada vez mais pesada. Falar pode ser libertador mesmo que seja com uma pessoa só, num grupo anônimo na internet ou até escrevendo num caderno.

Quando você nomeia o que sente, você cria espaço para entender. E quando entende, aos poucos começa a encontrar saídas mesmo que pequenas.

3. Busque apoio de verdade, não conselhos prontos

Você não precisa de mais frases feitas como “vai passar”, “toda mãe se sente assim” ou “ser mãe é difícil mesmo”.

Você precisa de escuta, acolhimento e apoio de verdade. Se puder, procure uma psicóloga especializada em maternidade. Ou participe de rodas de conversa com outras mulheres. 

Você vai se surpreender ao descobrir quantas mães sentem o mesmo que você e estavam só esperando alguém começar a falar.

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4. Resgate aos poucos o que faz você se sentir viva

Pode ser tomar um café em silêncio. Ou sair pra caminhar ouvindo música. Talvez voltar a desenhar, ler, escrever, dançar ou simplesmente ficar sozinha um pouco.

Você não precisa abandonar tudo pra cuidar de si, mas também não precisa se apagar pra cuidar de alguém.

Você também importa. E quando cuida de si, cuida melhor de quem está ao seu redor.

5. Aceite que nem todo dia vai ser bom e tá tudo bem

Tem dias que você vai se sentir em paz. Outros, vai querer jogar tudo pro alto. Isso não significa que está regredindo. Significa que você é real.

A maternidade é cheia de altos e baixos. E saber lidar com isso sem se punir já é uma forma de se amar.

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Conclusão

Se você tem se sentido sobrecarregada, confusa ou até arrependida com a maternidade, saiba que não está sozinha. 

Buscar apoio é um ato de coragem, não de fraqueza. Encontre um espaço seguro para acolher seus sentimentos, se fortalecer emocionalmente e redescobrir sua jornada como mãe.

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