Traumas de infância: consequências durante a maternidade

mãe com problemas de traumas na infância enquanto sua filha esta ao seu lado

Antes de qualquer coisa, quero que você respire fundo. Esse momento é seu. Um espaço seguro para olhar com carinho para a sua história sem julgamentos, sem culpa.

Você é uma mãe que busca fazer diferente, e só o fato de estar aqui, lendo isso, já mostra o quanto você quer transformar.

Muitas vezes, nós crescemos prometendo que “não vamos repetir o que vivemos”. Mas aí, na correria do dia a dia, nos pegamos dizendo palavras que doem, reagindo com impaciência ou repetindo atitudes que juramos nunca ter.

E aí vem a culpa. Você já sentiu isso? Aquela sensação de “por que eu ajo assim, se não quero ser assim?”. Essa é uma pergunta muito comum e a resposta está nas marcas emocionais que ficaram na nossa infância.

Essas marcas, que chamamos de traumas da infância, não são apenas lembranças ruins. São feridas emocionais que, se não olharmos com cuidado, continuam influenciando nossas escolhas, reações e a forma como criamos nossos filhos.

O que são traumas da infância e como eles se formam

Os traumas da infância são experiências dolorosas vividas durante os primeiros anos de vida que deixam marcas emocionais profundas. Essas feridas não precisam, necessariamente, estar ligadas a situações extremas,como violência física ou abandono. 

Sabe aquelas situações da sua infância que ainda doem quando você lembra? 

Ou aquelas que você nem lembra com clareza, mas sente que deixaram algo pesado dentro de você?

Isso pode ser um trauma emocional.

Traumas da infância não surgem apenas de grandes acontecimentos. Eles também nascem de pequenas ausências repetidas: quando você precisou de um abraço e não teve, quando tentou falar e ninguém te ouviu, quando foi criticada por chorar, ou quando sentiu que precisava ser perfeita para ser amada.

Esses momentos, mesmo parecendo “normais” para quem viveu, deixam marcas profundas no coração de uma criança.

E o que acontece é que a criança que você foi ainda vive dentro de você. Ela aprendeu que o mundo é um lugar onde é preciso se defender, agradar, controlar, ou esconder o que sente.

E essa criança, sem perceber, influencia a mulher e a mãe que você é hoje.

Talvez você perceba que tem dificuldade de lidar com erros, que sente culpa materna o tempo todo, ou que busca ser perfeita para compensar o que faltou.

Ou talvez note que, em alguns momentos, repete os mesmos padrões familiares que tanto te machucaram.

Mas quero que você saiba: isso não é sua culpa. É apenas a forma que o seu corpo e sua mente encontraram de te proteger.

Você fez o que podia com o que tinha e agora, está aprendendo a fazer diferente.

mãe tentando curar seus sintomas que teve em relação aos traumas da infância

Como os traumas da infância afetam sua vida adulta e a maternidade

Agora que você já entende o que são os traumas da infância, quero te convidar a olhar para como eles aparecem na sua vida hoje.

Porque sim, mesmo sem perceber, essas feridas emocionais moldam a forma como você se enxerga, se relaciona e, principalmente, como você materna.

Talvez você se reconheça em alguns desses comportamentos:

  1. Você se cobra demais e sente que nunca é suficiente;
  2. Sente culpa por não ser a mãe “perfeita” que imaginou;
  3. Tem medo de errar com seus filhos, medo de não dar conta;
  4. Busca agradar a todos e acaba esquecendo de si mesma;
  5. Se irrita fácil, depois se arrepende e pensa: “não queria ser assim”.

Essas sensações não surgem do nada.  Elas são ecos das suas vivências lá atrás.

Uma infância marcada por críticas pode ter te ensinado a ser autocrítica demais. A falta de afeto pode ter te deixado sempre em busca de aprovação. O abandono emocional pode ter criado em você o medo de não ser amada.

E o mais curioso é que, mesmo querendo fazer diferente, a criança que você foi ainda tenta proteger você.

Ela aprendeu que o mundo não é um lugar seguro, e por isso reage às vezes com controle, às vezes com dureza, às vezes com medo.

Só que agora, quem mais sente o reflexo dessas reações é você… e seus filhos.

Essa é a parte mais delicada:

Os padrões familiares se repetem, não porque você quer, mas porque eles vivem dentro de você. Você aprendeu a maternar como foi maternada e mudar isso exige consciência, não perfeição.

Não é sobre culpar seus pais. Eles também fizeram o que puderam, com o que tinham e com as próprias dores. Mas hoje, você tem a chance de quebrar esse ciclo.

De olhar para dentro, reconhecer o que ainda dói, acolher essa dor e escolher um novo caminho. Essa é a essência da maternidade consciente e emocional.

Quando você se permite enxergar seus traumas não resolvidos, começa um processo profundo de cura emocional.

E essa cura não transforma só você, ela muda toda a herança emocional que seus filhos vão receber.

Você não precisa ser uma mãe perfeita. Precisa apenas ser uma mãe presente, real e disposta a se conhecer.

Porque filhos não precisam de mães impecáveis…

Eles precisam de mães inteiras.

Leia também: Lidando com a sobrecarga materna

Como identificar se você ainda carrega traumas da infância

Quero te pedir algo: leia essa parte com o coração aberto, sem se julgar.

Você não está “errada” por sentir certas coisas.

Esses sentimentos são apenas mensageiros mostram onde ainda existe uma ferida emocional pedindo por cuidado.

Talvez você note alguns desses sinais no seu dia a dia:

Culpa constante

Você sente que nunca faz o suficiente. Mesmo quando dá o seu melhor, há uma voz interna dizendo que podia ser mais paciente, mais presente, mais amorosa.

Essa culpa materna é um reflexo da criança que aprendeu que precisava “acertar” para ser amada.

Medo de errar ou ser julgada

Você teme decepcionar os outros ou ser criticada. Isso pode vir de uma infância onde o amor estava condicionado ao bom comportamento e hoje, sem perceber, você busca aprovação o tempo todo.

Dificuldade em se acolher

Você cuida de todos, mas raramente cuida de si. Coloca as necessidades dos outros sempre em primeiro lugar, e quando pensa em si mesma, sente egoísmo. 

Esse é um sinal de autonegligência emocional, comum em quem cresceu sem se sentir verdadeiramente visto.

Entenda como deixar de descontar a raiva em seus filhos

Reações intensas ou desproporcionais

Sabe quando você explode por algo pequeno e depois se pergunta: “por que eu reagi assim?” Essas reações são memórias emocionais do passado. 

A dor atual desperta antigas feridas não curadas como rejeição, abandono, injustiça.

Dificuldade em expressar emoções

Talvez você tenha aprendido que “chorar é fraqueza” ou que “emoções atrapalham”. E agora sente dificuldade em lidar com as emoções dos filhos, porque não aprendeu a lidar com as suas.

Sensação de vazio ou desconexão

Mesmo com uma vida “certa” como uma casa, filhos, família, algo parece faltar. Esse vazio é o chamado da sua criança interior, pedindo por atenção e amor.

Se você se reconheceu em alguns desses sinais, quero te lembrar de algo muito importante:

Isso não significa que você está quebrada. Significa apenas que existe uma parte sua pedindo por cura. E ouvir essa parte é o primeiro passo da transformação.

Quando você escolhe olhar para dentro, com autoconhecimento e autocuidado, começa a resgatar o amor que talvez tenha faltado lá atrás. E essa jornada é libertadora, porque quanto mais você se cura, mais leve se torna a sua maternidade, e mais seguros se tornam os seus filhos.

Eles não precisam que você esconda suas dores. Precisam que você as acolha, para que aprendam que sentir é humano, e que o amor verdadeiro nasce da presença, não da perfeição.

mãe segurando uma carta com um desenho de coração enquanto sua filha rir ao seu lado

Como curar os traumas da infância e evitar transmiti-los aos filhos

Quero te convidar a enxergar esse processo não como um peso, mas como um ato de amor. Você não está sozinha, nem atrasada. 

O simples fato de estar aqui, buscando se entender, mostra o quanto você quer oferecer o melhor para seus filhos e para si mesma.

E a boa notícia é: curar é possível, sim e começa no agora.

Vamos juntas por etapas, tá?

1. Comece pelo autoconhecimento

A cura começa quando você escolhe se olhar com verdade. Pergunte a si mesma:

  • “O que eu vivi que ainda dói?”
  • “Que situações da minha infância eu nunca consegui esquecer?”
  • “Quais comportamentos eu repito, mesmo não querendo?”

Essas perguntas não são para se culpar, mas para compreender. O autoconhecimento é como uma lanterna: ele ilumina as partes que estavam escondidas. 

E quando a dor é vista, ela começa a se transformar.

2. Permita-se sentir

Durante muito tempo, você pode ter aprendido a engolir o choro, a não reclamar, a ser forte sempre. Mas a verdade é que sentir também é força. 

Chorar, falar, se emocionar… tudo isso é parte da cura emocional. Acolha seus sentimentos sem julgamento eles são sinais do que precisa ser cuidado.

3. Busque apoio profissional

Algumas feridas são profundas demais para curarmos sozinhas. E tudo bem. 

Uma terapia, uma mentoria parental, um grupo de apoio todos esses caminhos ajudam a dar sentido ao que você viveu. 

Um profissional pode te ajudar a enxergar com mais clareza e te guiar com ferramentas reais. Você não precisa fazer isso sozinha.

banner chamada orientação parental

4. Pratique o autocuidado e a autocompaixão

Curar traumas também é se tratar com gentileza. É parar de se cobrar perfeição. 

É permitir-se descansar, dizer “não”, colocar limites e priorizar o que te faz bem.  O autocuidado é o remédio que alimenta a alma e fortalece a mente. 

E quando você cuida de si, mostra aos seus filhos o valor de se respeitar.

5. Quebre os padrões com presença

Toda vez que você escolhe agir diferente, está quebrando padrões familiares e repetitivos

  • Quando decide ouvir ao invés de gritar; 
  • Acolher ao invés de criticar; 
  • Conversar ao invés de punir.

Essas pequenas escolhas, feitas com consciência, mudam gerações. Seus filhos aprendem o que é inteligência emocional através do seu exemplo.

A cura do arrependimento de ter se tornado mãe

6. Construa vínculos emocionais saudáveis

Mais do que corrigir erros, foque em construir laços verdadeiros. Olhe nos olhos, abrace, escute, valide os sentimentos dos seus filhos. 

Diga “eu te amo” sem condições. 

Esses gestos simples são poderosos: eles curam a sua criança interior e fortalecem o desenvolvimento emocional dos filhos.

Curar não é um caminho linear. Haverá dias bons e dias difíceis. 

Mas, em todos eles, lembre-se: você está reescrevendo a sua história

E essa história agora é feita de consciência, amor e presença.

Você não é a dor que viveu, você é a mulher que escolhe se libertar dela.

Compartilhe:

Artigos relacionados